Vivemos num tempo que exige uma reflexão profunda e uma mudança de atitude de todos.
Elogio ao ½ foi um desafio simultaneamente aliciante e ambicioso que me obrigou a voltar a olhar para filmar.
O que há de novo então num documentário? As possibilidades são infinitas. Esta foi certamente mais uma nova experiência. De casa em casa registei as impressões dos habitantes da Meia-Praia. Um olhar sempre pessoal, implica um ponto de vista, uma vivência, uma interpretação ou uma reinterpretação da realidade. Os olhos dos outros prendem os nossos. O meu olhar não ficou indiferente depois de habitar o território das ideias dos habitantes da Meia-Praia.
O poder de isolar uma imagem, ou um som, do seu contexto, faz-me exercer um trabalho de selecção e composição, associado ao trabalho que construo.
Desenvolvi para este projecto uma estrutura narrativa pouco vincada na lógica de uma “história tradicional”, mas antes agarrada aos corpos que a representam e que simultaneamente a criam.
Muitas vezes não sei como quero que seja o resultado final de um documentário, mas quase sempre sei como não quero que seja. Parece-me que o processo de criação e produção deste projecto foi bastante livre e muito concentrado no fascínio das histórias dos “índios”.
Observei e vivi a Meia-Praia quando filmei o vídeo clip da música “Índios da Meia Praia” do Zeca Afonso, num arranjo criado pelo trio de jazz Zé Eduardo Unit, e fiquei sensibilizado com a dimensão humana, social e política do Bairro 25 de Abril colado ao mar.
Pretendi que o projecto Elogio ao ½ apresentasse uma combinação de três níveis diferenciados: imagem, som e palavras de testemunhos vivos do que foi e o que quer ser a Meia-Praia.
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